Papa recusa pessimismo e elogia «velhice»

Francisco evoca Bento XVI e dias do Conclave em encontro com cardeais, 
afirmando que o Cristianismo continua a ser válido

O Papa Francisco deixou hoje um apelo contra o “pessimismo” na Igreja, num encontro com os cardeais que se encontram no Vaticano, e elogiou a atualidade da mensagem cristã, bem como a “velhice”. “Não cedamos nunca ao pessimismo, à amargura que o diabo nos oferece todos os dias: não cedamos ao pessimismo e ao desencorajamento”, disse, falando várias de improviso, apesar de ter um texto preparado. Segundo o Papa, a Igreja deve ter “a coragem de perseverar e também de procurar novos métodos de evangelização” para levar a sua mensagem a “todos os confins da terra”. “A verdade cristã é atraente e persuasiva porque responde à necessidade profunda da existência humana, anunciando de maneira convincente que Cristo é o único salvador do homem todo e de todos os homens”, acrescentou. Francisco sublinhou que este anúncio “continua válido hoje como foi no início do Cristianismo, quando se operou a primeira grande expansão missionária do Evangelho”. O Papa, de 76 anos, destacou por outro lado o facto de uma parte dos membros do Colégio Cardinalício se encontrar já na “velhice”. “A velhice, gosto de o dizer assim, é a sede da sabedoria da vida. Os velhos têm a sabedoria de ter caminhado na vida”, observou. Francisco convidou os cardeais a oferecerem esta sabedoria às novas gerações: “Como o vinho bom, que com os anos se torna melhor, dêmos aos jovens a sabedoria da vida”. A este respeito, citou as palavras do poeta alemão Friedrich Hoelderlin (1770-1843) sobre a velhice: “‘Es ist ruhig, das Alter, und fromm’, é o tempo da tranquilidade e da oração. E também de dar aos jovens esta sabedoria”. O pontífice elogiou o “clima de grande cordialidade” com que decorreu o processo eleitoral, iniciado na terça-feira. “Nós somos irmãos – alguém me dizia que os cardeais eram os padres do Papa -, somos aquela comunidade, aquela amizade, aquela proximidade que nos faz bem a todos”, referiu. O Papa argentino disse que o período do Conclave, que se concluiu na quarta-feira à noite com a sua eleição, foi marcado pelo “afeto e solidariedade da Igreja universal”, bem como pela “atenção de muitas pessoas que, embora não partilhando” a fé cristã “olham com respeito e admiração para a Igreja e a Santa Sé”. Francisco evocou a “sugestiva imagem” do primeiro encontro com a multidão, desde a varanda da Basílica de São Pedro, antes de manifestar o seu “sincero reconhecimento” a todos os que o acompanharam. O novo Papa quis dedicar uma palavra particular ao cardeal argentino Jorge María Mejía, de 90 anos, que na quinta-feira sofreu um enfarte, e recordou ainda Bento XVI, seu predecessor, elogiando o “gesto corajoso e humilde” da renúncia ao pontificado. Francisco, primeiro Papa do continente americano, falou nas “diferenças na Igreja” como fruto do Espírito Santo e disse que as mesmas são chamadas à unidade “na harmonia” e não numa “igualdade”. O encontro iniciou-se com uma saudação do decano (presidente) do Colégio Cardinalício, D. Angelo Sodano, ao qual Francisco deu um abraço, saindo do seu lugar e quase tropeçando por causa do estrado sobre o qual estava colocada a sua cadeira. O novo Papa esteve depois longos minutos, de pé, a cumprimentar pessoalmente cada cardeal, incluindo os três portugueses: D. José Saraiva Martins, D. José Policarpo, que regressaria no final para junto de Francisco, e D. Manuel Monteiro de Castro.
OC

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